NOVO MOTOR PARA 2028 NASCE DO DIÁLOGO E NAO DA NOSTALGIA

  • Leonardo Alves
  • 16 de dezembro de 2025

Categoria define fórmula 2.4 V6 biturbo híbrida após ouvir fabricantes, priorizar custos, paridade e permanência de fabricantes.

A definição da fórmula de motores da Fórmula Indy para 2028 passou longe de decisões passionais ou saudosistas. Ideias populares como o retorno dos V8 2.65 turbo da era CART ou a adoção de V10 aspirados ao estilo da Fórmula 1 dos anos 1990 e 2000 até surgiram no imaginário dos fãs, mas não fizeram parte do processo real de decisão. Em vez de impor um caminho técnico, a categoria optou por ouvir o mercado, especialmente seus atuais e potenciais fabricantes.

Com a chegada do novo chassi em 2028, a IndyCar, liderada pelo vice-presidente sênior de competição e operações Mark Sibla, estruturou a discussão do powertrain com dois objetivos centrais:

  1. Entender as necessidades comerciais, técnicas e de marketing dos fabricantes;
  2. Garantir a permanência de Chevrolet e Honda após o fim dos contratos atuais, em 2026 — algo que ainda não foi publicamente confirmado por nenhuma das duas.

Segundo Sibla, o diálogo com Honda e General Motors (Chevrolet) tem sido constante e, sempre que possível, conjunto, buscando identificar pontos de convergência. A lógica é simples: descobrir o que ambas querem alcançar e, a partir disso, construir uma solução viável. Ao mesmo tempo, a IndyCar também conversou com outros fabricantes, não revelados, que deram retorno positivo sobre a direção escolhida — sinal de que a nova fórmula não atende apenas aos interesses dos fabricantes atuais.

O resultado desse processo foi a escolha de um motor 2.4 litros V6 biturbo, maior que o atual, combinado a um sistema híbrido mais robusto, com capacidade de entrega de potência próxima ao dobro do sistema híbrido atual. A série espera manter Honda e Chevrolet e, idealmente, atrair um ou dois novos fabricantes, embora ainda aguarde a assinatura do primeiro contrato oficial para a era 2.4 híbrida.

Sibla destaca que as conversas com fabricantes externos foram especialmente valiosas por trazerem visões de fora do ambiente tradicional do automobilismo de monopostos nos EUA. Nessas reuniões, a IndyCar apresentou não apenas o novo carro, mas também o conceito do powertrain, enquanto fazia perguntas diretas: custos, paridade técnica, importância do híbrido e retorno de marca. As respostas variaram: alguns veem o automobilismo como ferramenta direta para venda de carros, outros como um meio de posicionamento de marca.

Um ponto que surpreendeu positivamente a categoria foi a falta de conhecimento de alguns fabricantes sobre o uso de combustível 100% renovável na IndyCar — informação que, em alguns casos, foi vista como decisiva. “Houve quem dissesse que, ao avaliar um programa de automobilismo, a primeira pergunta da diretoria era: ‘Qual combustível essa categoria usa?’”, revelou Sibla.

Mesmo quando as conversas não resultam imediatamente em novos fornecedores, o dirigente vê valor estratégico nelas. Além de “plantar sementes” para o futuro, a IndyCar passa a entender melhor o que realmente importa para o mercado automotivo global. Em alguns casos, fabricantes externos acabaram descrevendo exatamente aquilo que a categoria já faz hoje, reforçando que o caminho adotado está alinhado com tendências maiores da indústria.

No fim, a escolha do 2.4 V6 biturbo híbrido com sistema de recuperação de energia mais agressivo surge como um meio-termo cuidadosamente construído: atende às demandas técnicas e comerciais dos fabricantes, preserva a identidade da Fórmula Indy e mantém a categoria relevante em um cenário automotivo cada vez mais atento a eficiência, sustentabilidade, controle de custos e paridade competitiva.

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