
Foto: Penske Entertainment - Doug Matthews
A decisão da Fórmula Indy de adiar para 2028 a estreia do novo chassi e da nova geração de motores criou um desafio delicado — e potencialmente decisivo — para o futuro imediato da categoria: como atravessar 2027 sem comprometer o fornecimento de motores.
Atualmente, Chevrolet e Honda fornecem os motores V6 2.2 turbo desde 2012, com sucessivas extensões contratuais ao longo dos anos. Esses acordos, porém, se encerram ao fim da temporada 2026, exatamente um ano antes da chegada do novo pacote técnico. Com isso, abre-se a possibilidade de um “ano de transição” sem garantias formais de fornecimento.
Pelo planejamento original, o novo carro da Dallara estrearia em 2027 já com a nova fórmula de motores, permitindo uma troca direta entre gerações. Com o adiamento para 2028, a Indy passa a depender da boa vontade de Chevrolet e Honda para manterem o atual 2.2 por mais uma temporada.
A categoria trabalha ativamente para convencer ambas as fabricantes a permanecerem não apenas em 2027, mas também a migrarem diretamente para os novos V6 2.4 biturbo em 2028. O cenário ideal, segundo a própria Indy, seria manter as duas marcas até o fim da década, com investimentos anuais de oito dígitos tratados como despesas de marketing e posicionamento institucional.
Mas não há garantias.
“Esperamos que isso não aconteça, mas é preciso planejar para todos os cenários”, afirmou Mark Sibla, vice-presidente sênior de competição e operações da IndyCar. “Posso dizer que esse trabalho já foi feito e está pronto.”
Caso uma — ou ambas — as montadoras decidam não seguir adiante, a categoria terá de recorrer a planos alternativos. E eles existem.
Se apenas uma fabricante decidir permanecer, ela teria de abastecer todo o grid: algo entre 25 e 27 carros em tempo integral, além das 33 ou mais inscrições das 500 Milhas de Indianápolis. Não seria algo inédito: a Honda assumiu esse papel entre 2006 e 2011, após as saídas de Chevrolet e Toyota.
O problema é financeiro. O programa atual de leasing fixa o custo máximo em US$ 1,45 milhão por carro por temporada, valor que inclui quatro motores por ano. Tanto Chevrolet quanto Honda subsidiam parte desse custo para atingir esse teto. Caso apenas uma delas permaneça, não há garantia de que esse subsídio continuaria existindo — o que poderia elevar significativamente os valores pagos pelas equipes.
Se ambas decidirem sair após 2026, a Indy já considera soluções alternativas. Uma delas seria recorrer diretamente à Ilmor Engineering, empresa responsável pelo programa Chevrolet e que tem como um de seus fundadores o próprio Roger Penske, coproprietário da categoria. Outra possibilidade seria a Honda Racing Corporation US (HRC) atuar como fornecedora técnica independente.
Nesse cenário, a Indy poderia contratar uma dessas empresas para fornecer motores “neutros”, enquanto buscaria fabricantes interessados apenas em estampar sua marca — o chamado badging. Também existe a hipótese de dividir o grid entre dois nomes diferentes utilizando a mesma base mecânica.
“As possibilidades não são infinitas, mas existem vários caminhos”, explicou Sibla.
“Analisamos não só um plano B, mas variações desse plano. Se seguimos por um caminho, como isso mantém a porta aberta para outros fabricantes? Ou se vamos por outra direção, o que isso representa?”
O tempo é um fator crítico. Para que fabricantes estejam prontos em 2028, os contratos precisam ser assinados em breve, já que a Dallara deverá entregar os primeiros protótipos do novo carro no próximo ano para testes iniciais. Sem acordos firmados, a sombra de um “ano vazio” em 2027 continua pairando.
Mesmo assim, a Indy mantém o discurso de confiança.
“A fórmula que estamos construindo precisa ser atraente para os dois fabricantes atuais e também para possíveis novos parceiros”, afirmou Sibla.
“Isso pode nos levar a ter mais de dois fabricantes — ou talvez dois diferentes dos atuais. Existem vários caminhos possíveis.”
O cenário revela um ponto central da atual fase da categoria: equilíbrio entre viabilidade econômica e estabilidade técnica. O projeto dos motores 2.4 foi desenhado exatamente para reduzir custos, ampliar o retorno sobre investimento e tornar a Indy novamente atrativa para a indústria global.
Mas, até que contratos sejam assinados, 2027 segue como um elo frágil entre o presente e o futuro.
A Fórmula Indy trabalha nos bastidores para garantir que essa ponte não desabe — porque, sem motores, não há espetáculo.
Fonte: Marshall Pruett / Racer.com

