Foto: Penske Entertainment - Joe Skibinski
Entre controle de custos, diálogo com as equipes, paixão dos proprietários e o aguardado carro de 2028, presidente da categoria revela bastidores, emoções pessoais e a visão para manter a IndyCar forte, relevante e fiel à sua essência.
Na terceira e última parte de entrevista de Doug Boles, presidente da IndyCar, ao Marshall Pruett podcast, ele abriu o jogo em uma longa e franca conversa no ao falar sobre os bastidores da categoria, os desafios com equipes, custos, comunicação, o futuro do grid, a relação com os proprietários, o impacto emocional de decisões difíceis e, principalmente, o que esperar do tão aguardado carro de 2028. O tom foi humano, direto e revelador — daqueles que ajudam a entender como a categoria pensa e para onde pretende ir.
Logo de início, Boles deixou claro que uma das maiores preocupações recorrentes dos donos de equipes é o controle de custos. Segundo ele, qualquer mudança de regra precisa ser analisada com extremo cuidado, porque decisões aparentemente pequenas podem gerar impactos financeiros relevantes. Muitas vezes, algo que parece simples para a direção da categoria acaba pesando de forma diferente no orçamento de cada equipe. Por isso, ele admite que a comunicação precisa ser constante e mais aberta, envolvendo os times antes que decisões sejam tomadas.
Outro ponto central citado por Boles é a necessidade de crescimento da IndyCar como produto. Com a chegada da FOX como parceira de mídia, os proprietários querem ver investimentos claros em marketing, visibilidade e expansão da marca. O objetivo é fazer com que o público, patrocinadores e empresas entendam melhor o que é a IndyCar, fortalecendo o valor das charters e tornando o campeonato mais atrativo comercialmente. Segundo ele, os donos estão profundamente envolvidos emocionalmente com a categoria e querem vê-la prosperar.
Essa paixão, aliás, é algo que Boles destacou repetidamente. Ele contou que recebe ligações — algumas exaltadas, outras entusiasmadas — durante corridas, e vê isso como algo positivo. Para ele, o fato de os proprietários se importarem tanto a ponto de ficarem irritados ou extremamente felizes mostra que a IndyCar desperta sentimentos reais, algo raro no esporte profissional. Em tom bem-humorado, lembrou até de um episódio em que flagrou fãs tentando entrar escondidos no autódromo na véspera das 500 Milhas, dizendo que prefere trabalhar em um lugar onde as pessoas “querem tanto estar ali que tentam invadir”.
Ao falar sobre o tamanho do grid, Boles explicou que existe debate interno sobre manter, ampliar ou até reduzir o número de carros no futuro. Atualmente, a categoria trabalha com 25 charters, e qualquer mudança exigiria consenso entre os proprietários. Ele reconhece que, como fã, também cresceu achando que “quanto mais carros, melhor”, mas pondera que há argumentos esportivos e comerciais para limitar o grid. Tudo dependerá das oportunidades que surgirem e do que for melhor para o crescimento sustentável da IndyCar.
Um dos momentos mais fortes da entrevista veio quando Boles relembrou o episódio de 18 de maio, que marcou profundamente seu início como presidente. Ele falou abertamente sobre o peso emocional daquele período, quando precisou lidar com decisões duras envolvendo penalizações, ao mesmo tempo em que vivia um momento pessoal importante: a formatura do filho. Admitiu que se arrepende de não ter conseguido viver plenamente aquele momento em família, tamanha foi a pressão vivida.
Nesse contexto, destacou a postura de Roger Penske, ressaltando sua integridade. Segundo Boles, ao comunicar a decisão tomada, Penske não interferiu, não pressionou e deixou claro que a prioridade era fazer o que fosse correto para a categoria. Para ele, esse episódio reforçou sua admiração pelo chefe do grupo Penske e sua convicção de que a liderança da IndyCar está baseada em princípios sólidos.
O dirigente também comentou sobre o futuro técnico da categoria e revelou entusiasmo com o desenvolvimento do novo carro de 2028. Ele explicou que um dos grandes avanços será o projeto já pensado desde o início para integrar o aeroscreen, algo que hoje parece “apenas encaixado” no carro atual. Isso permitirá um visual mais limpo, moderno e agressivo, além de melhorias aerodinâmicas importantes.
Segundo Boles, o novo carro será mais seguro, mantendo a tradição da IndyCar em priorizar proteção aos pilotos, mas também deverá permitir melhor capacidade de seguir outros carros, especialmente em ovais, onde o ar sujo ainda é um desafio. Ele acredita que o projeto pode devolver à categoria a possibilidade real de quebrar recordes históricos de velocidade, algo que considera parte essencial do DNA das 500 Milhas de Indianápolis.
A expectativa é que os primeiros protótipos do carro de 2028 estejam rodando em 2026, com testes extensivos ao longo de aproximadamente um ano e meio. A apresentação oficial, segundo ele, será feita com cuidado, para que fãs e equipes sintam o impacto e a empolgação que o novo modelo merece.
No fim, Boles deixou transparecer não apenas o executivo, mas o apaixonado pelo esporte. Entre histórias com cerveja na mão, bastidores, decisões difíceis e planos ambiciosos, ficou claro que sua gestão busca equilíbrio entre emoção, responsabilidade, transparência e visão de futuro. Para ele, a IndyCar só faz sentido se continuar sendo movida por pessoas que se importam — sejam dirigentes, donos, pilotos ou fãs.


