COBERTURAS ESPECIAIS: Drama, estratégia e glória na decisão do Endurance Brasil 2025

O Autódromo Internacional Nelson Piquet, em Brasília, voltou a respirar automobilismo em grande estilo neste sábado (6), recebendo uma das finais mais dramáticas, técnicas e emocionantes da história recente do Endurance Brasil. Foi um fim de tarde com roteiro digno de cinema: problemas mecânicos improváveis, estratégias arriscadas, títulos decididos na unha e até uma solução caseira — literalmente açucarada — para manter um protótipo vivo até a bandeirada. No centro de tudo isso, um nome já conhecido e outro que acaba de escrever seu primeiro capítulo dourado: Gaetano Di Mauro e Arthur Pavie, campeões gerais e da classe P1 em 2025, ao lado do parceiro de etapa Gabriel Koenigkan, pela BTZ Motorsport.

Mas a volta ao topo do pódio ficou com uma dupla tão tradicional quanto competitiva: Pedro Queirolo e David Muffato, que conduziram o AJR #35 da TMG Racing a uma vitória construída com frieza, leitura de prova e uma estratégia que beirou a perfeição.

Um título decidido na base da sobrevivência

O enredo da prova tomou contornos dramáticos justamente quando parecia que a #117 tinha tudo sob controle. Largando na primeira fila, com ritmo consistente e estratégia alinhada, o trio da BTZ parecia encaminhar o bicampeonato de Gaetano e o título de estreia de Pavie. Até que o último pit stop virou a chave da corrida — e do campeonato.

Quando Di Mauro tentava deixar os boxes para seguir na briga, encontrou a saída fechada, perdeu uma volta e caiu para o sétimo lugar da P1. Num cenário normal, ainda havia tempo para recuperação. Mas nada estava normal. Ao voltar à pista, Di Mauro passou a conviver com um problema de embreagem que só piorava a cada giro. E o cenário ficava ainda mais aflitivo: a Ligier #42, de Lucas Foresti/Victor Foresti/Rafa Martins, vinha logo atrás e, empatando em pontos com o #117, tomaria o título pelo critério de vitórias caso alcançasse a mesma volta.

Foi aí que a história ganhou um capítulo absolutamente inesperado — e que, certamente, será lembrado por muitos anos.

“Foi um dos títulos mais difíceis da minha vida”, resumiu Gaetano.
“Fizemos dois stints com a embreagem patinando muito. Na última volta, eu encostava no acelerador e o carro patinava. Eu precisava encostar o mínimo possível.”

A solução encontrada pela equipe, tão improvisada quanto genial, virou anedota instantânea do paddock:

“Nas paradas, colocávamos refrigerante com açúcar na embreagem para ver se aumentava um pouco do grip, se criava uma gosma, alguma coisa, para tentar continuar acelerando.”

Sim: refrigerante com açúcar segurou o carro que segurou o campeonato.

Di Mauro cruzou a linha em sexto na geral. E foi o suficiente. Com três voltas de atraso, mas com a alma lavada e a adrenalina ainda alta, o título veio na marra — e na doçura.

A vitória construída com estratégia cirúrgica

Enquanto a BTZ travava sua batalha particular, Queirolo e Muffato viviam outra história. Sem problemas mecânicos, com um ritmo constante e muito sangue frio na leitura da prova, a TMG Racing fez valer uma estratégia agressiva desde o início. Um splash and go sob bandeira amarela e três pit stops obrigatórios adiantados — tudo isso enquanto a prova era marcada por longas intervenções do Safety Car.

A aposta funcionou de maneira impecável. O AJR #35 assumiu a liderança ainda na metade inicial e, embora tenha passado novamente pelos boxes no fim para garantir combustível até a bandeirada, jamais perdeu o controle da situação.

“Viemos de três corridas com problemas no carro. A equipe varou a noite, desmontou o tanque, e hoje funcionou. Fizemos uma estratégia perfeita.”, afirmou Queirolo.
“Fiz um stint muito bom e o David fez um stint excelente.”

Foi a consagração da persistência — e da experiência de uma das duplas mais longevas do endurance brasileiro.

A festa dos protótipos: Legends coroado

Entre os protótipos, a corrida também marcou uma conquista especial para a Ligier #22 da GForce Autosport. Flávio Abrunhoza, ao lado de André Moraes Jr. e Daniel Lancaster, confirmou o título do Troféu Legends, dedicado a pilotos Bronze acima de 55 anos.

“Não é fácil andar com um protótipo desses vindo de um GT4, ainda mais com o Victor [Foresti] como concorrente. A constância fez o título vir.”, celebrou Abrunhoza.

Estreias vitoriosas na GT3 e GT4

Embora as categorias GT3 e GT4 já tivessem seus campeões definidos antes de Brasília, o público do Distrito Federal viu vitórias inéditas — e com histórias interessantes — nas duas divisões.

Na GT3, triunfo para Enzo Elias e os irmãos André e Miguel Rosário, que começaram a corrida da pior maneira possível: uma escapada logo no início, que quase atolou o Mercedes AMG GT3 #8 e provocou a primeira bandeira amarela. A recuperação, porém, foi brilhante.

“Tivemos muita evolução ao longo da temporada. Coroamos um trabalho que começou no início do ano.”, destacou André Rosário.

A vitória colocou o trio no mapa da categoria e confirmou a força da Scuderia Chiarelli na reta final do campeonato.

Na GT4, a história foi ainda mais improvável. O Porsche #718 vencedor em Santa Cruz do Sul voltou a vencer — mas com três pilotos completamente diferentes. A tripulação formada por Luiz Souza, Bruno Bonifácio e Vitor Baptista só decidiu correr 48 horas antes da prova. E venceu.

“Nem tínhamos planejado correr juntos. Eu viria só como estrategista. A parceria já era de sucesso fora das pistas — e agora dentro delas também.”, contou Baptista.

Olhar para 2026

Com o encerramento da temporada, a APE já mira o futuro: o Endurance Brasil 2026 começará de novo em Brasília, no dia 11 de abril, com oito etapas, uma delas em formato de rodada dupla, e encerramento marcado para 21 de novembro, em Goiânia.

Um calendário robusto para uma categoria que vive fase de expansão e que acaba de entregar uma das finais mais memoráveis dos últimos anos.

Resultado Final – Quatro Horas de Brasília

🏁 Classificação Geral

❌ Não completaram

🏁 Classificação Final — Endurance Brasil (2025)