Em bate-papo descontraído com Marshall Pruett, piloto fala sobre acolhimento da RLL, retorno às raízes dos monopostos, desafios dos ovais e a nova vida na Fórmula Indy.
Há conversas que não parecem entrevista — parecem encontro de dois velhos conhecidos. Foi assim o bate-papo entre Marshall Pruett e Mick Schumacher, agora oficialmente piloto da Fórmula Indy pela Rahal Letterman Lanigan Racing (RLL). Um diálogo leve, cheio de bastidores e com aquela sensação de renascimento na carreira de um jovem que, após anos turbulentos na Fórmula 1, enfim volta a ter um carro só seu para acelerar.
E Mick não escondeu: sentir-se desejado pesou muito na decisão.
O poder de ser querido
Quando Pruett perguntou como foi ser tão perseguido — no bom sentido — pela RLL, Mick abriu um sorriso quase audível.
Segundo ele, mais do que propostas e planos técnicos, o que o convenceu foi a paixão pura que encontrou na equipe:
“Todos lá me mostraram o quanto amam corridas. E é isso que eu mais amo também. Foi o que me fez me ver como piloto da Indy.”
A equipe não queria apenas um nome: queria construir algo em torno dele. Não ofereceram simplesmente o carro do ano anterior. Falaram em reestruturar o programa, dar ao carro nº 47 o mesmo status dos outros, criar um ciclo novo.
Isso, claro, mexe com qualquer piloto que busca recomeço.
“Mick Schumacher, piloto da IndyCar”: soa estranho? Não mais.
Para quem chegou agora, tudo ainda parece novidade. Mas Mick garante:
Não há estranhamento.
“Não soa errado. Não soa estranho. Já corri tantas categorias que a sensação chega rápido. Estou só ansioso para começar.”
Ele fala como alguém que já viveu algumas vidas dentro do automobilismo, mas que não perdeu o brilho nos olhos.
A missão: transformar o terceiro carro da RLL
O carro nº 47 nasceu em 2022 como parte da expansão da equipe. A ideia era torná-lo tão competitivo quanto os outros — mas isso não aconteceu.
Agora, Mick chega como o centro de um projeto que foi refeito do zero.
E o alemão entende o tamanho da responsabilidade:
“Mesmo sem testar em um oval, tomei a decisão. Sou adaptável. Quero explorar isso. Tenho gente muito boa ao meu redor para me ajudar.”
É quase poético ouvir Schumacher falar do desafio dos ovais com a curiosidade de quem está prestes a conhecer um planeta novo.
Volta às raízes: a alma do piloto de monoposto
Pruett cutuca um ponto sensível: a saudade de um carro “de rodas descobertas”open wheels”. Mick não hesita.
“Eu só queria estar no meu próprio carro, ver minhas rodas de novo e disputar como sempre vi na Indy.”
Apesar de seguir testando Fórmula 1 como piloto de desenvolvimento, faltava algo essencial: competir. Pilotar de verdade. Se sujar de borracha e gasolina.
E é aqui que a Indy entra como lar adotivo.
De Haas para a Indy: o ‘efeito colateral’ inesperado
Marshall lembra que Mick é o sexto piloto ligado à HAAS F1 a migrar para a Indy — juntando-se a Gutierrez, Ferrucci, Magnussen, Grosjean e Ilott.
Mick ri, surpreso.
O alemão aproveita para destacar algo que sempre valorizou: correr nos Estados Unidos.
“Os americanos fazem você se sentir de um jeito especial quando está correndo diante deles.”
Essa frase resume bem: Mick encontrou um público que o abraça sem reservas.
Contrato para 2026… e além?
É um ano de adaptação, claro. Testes, novas pistas, novos estilos de corrida. Mas a pergunta que paira no ar é:
Mick pensa em ficar?
A resposta é honesta:
“Eu não estaria aqui se não achasse que isso poderia ser algo de longo prazo.”
Ele precisa viver a temporada, claro. Mas o brilho na voz entrega: ele quer ficar.
Laços com os EUA
Com família e casa no Texas, Mick nunca se sentiu estranho por aqui.
A chegada à Indy, portanto, não é exatamente “vir para a América” — é voltar para um lugar que já fazia parte do seu mundo.
Ele vibra especialmente com a etapa em Arlington:
“Muitos amigos já estão planejando ir. Adoro passar tempo no Texas.”
Integração com Graham Rahal e Louis Foster
Schumacher já conversa regularmente com Rahal. Trocam mensagens, fazem chamadas, constroem a relação.
Louis Foster, jovem e talentoso, traz a visão fresca de quem acaba de subir.
“Temos um bom equilíbrio entre experiência e novidade. Isso vai me ajudar a pegar o ritmo rápido.”
Pruett encerra com uma brincadeira sobre o bigode excêntrico de Foster — e Mick dá risada, como quem já se sente em casa no paddock.
Conclusão
No fim das contas, a chegada de Mick Schumacher à Fórmula Indy carrega aquele simbolismo raro: o retorno de um talento que finalmente encontra um ambiente disposto a abraçá-lo, acreditar nele e construir algo ao seu redor — não apesar de sua história, mas justamente por causa dela. A Indy oferece a Mick aquilo que lhe faltou nos últimos anos: propósito, pertencimento e um carro que realmente seja seu. E, pelo que se ouviu nesse bate-papo, ele já veste a categoria como se tivesse crescido nela.
Se 2026 será apenas o começo ou o início de um longo capítulo americano, só a pista dirá. Mas uma coisa já é clara: Mick não veio para fazer figuração. Veio para se reencontrar, para competir de verdade e para provar, finalmente, tudo aquilo que tantos sempre acreditaram que ele poderia mostrar. E, para a Indy, ter um Schumacher num monoposto é mais do que uma novidade — é um privilégio.


