Espanhol explica no tribunal por que rompeu contrato com a equipe e culpou a chegada de Piastri por encerrar seu sonho na F1
O bicampeão da Fórmula Indy Alex Palou afirmou em depoimento à High Court, em Londres, que o principal motivo para assinar com a McLaren Racing foi a promessa de uma vaga na Fórmula 1 — e que decidiu romper o contrato quando percebeu que essa chance havia se perdido com a contratação de Oscar Piastri pela equipe britânica.
A declaração faz parte de seu depoimento por escrito, revelado nesta quarta-feira (9), no processo movido pela McLaren que cobra US$ 20,7 milhões (cerca de £15,4 milhões) em indenização pelo rompimento do contrato que o ligaria ao time na Fórmula Indy a partir de 2024.
“Fiquei chateado e com raiva”
Palou descreveu o momento em que viu o anúncio de Piastri nas redes sociais, em setembro de 2022, como um ponto de virada.
“Fiquei muito chateado, preocupado e com raiva porque a McLaren tinha contratado outro piloto novato que não era eu”, relatou.
Na época, o espanhol havia sido campeão da Indy com a Chip Ganassi Racing e já mantinha conversas com Zak Brown, CEO da McLaren, e com o consultor Daniele Audetto sobre uma eventual transição para a Fórmula 1.
Palou explicou que pediu à sua equipe de gerenciamento, a Monaco Increase Management (MIM), para buscar esclarecimentos junto a Brown.
“Pedi à MIM que falasse com Zak para saber o que estava acontecendo. Ele respondeu que precisavam de alguém rápido em 2023, mas que isso não interferiria nas minhas chances de ir para a F1”, disse Palou.
A promessa que nunca veio
O piloto afirmou que o único atrativo do acordo com a McLaren era a oportunidade de competir na Fórmula 1.
“Meu interesse era exclusivamente a F1. É a categoria de monopostos mais importante do mundo”, declarou.
Ainda em 2021, segundo Palou, Brown e Audetto discutiram a possibilidade de o espanhol correr na Indy pela McLaren, mas ele teria deixado claro que só aceitaria se houvesse um caminho direto para a F1.
“Instruí a MIM a dizer que eu só teria interesse em correr pela McLaren na Fórmula 1”, escreveu.
O impasse gerou uma disputa pública entre Chip Ganassi Racing e McLaren, ambas reivindicando seus serviços para 2023. O caso terminou com um acordo de mediação: Palou ficaria mais um ano na Ganassi, mas realizaria testes e funções de piloto reserva da McLaren na F1, antes de uma transição completa para o time na Indy em 2024 — algo que nunca se concretizou.
“Zak disse que faríamos acontecer”
O espanhol afirmou que Brown lhe garantiu pessoalmente que faria de tudo para colocá-lo na Fórmula 1.
“Durante os testes com a McLaren, Zak me disse que acreditava que poderíamos fazer isso acontecer e que me daria toda a preparação necessária para chegar à F1. Naquele momento, achei que ele era sincero.”
Mas a ilusão durou pouco. Com o anúncio de Piastri como companheiro de equipe de Lando Norris, Palou percebeu que a vaga dos sonhos havia desaparecido.
Em outubro de 2022, os dois se encontraram para jantar em Beaverbrook, próximo ao centro tecnológico da McLaren, em Surrey.
“Zak me disse que a contratação de Oscar não havia sido decisão dele, mas de Andreas Seidl (então diretor da equipe). Disse também que Piastri seria avaliado em relação a mim para 2024, e que minhas chances na F1 não seriam afetadas. Mas eu sabia que tudo havia mudado”, relatou Palou.
Tentativas frustradas de chegar à F1
Segundo o depoimento, Palou chegou a buscar oportunidades em outras equipes, incluindo uma conversa direta com Helmut Marko, consultor da Red Bull, sobre uma vaga na AlphaTauri em meados de 2023.
“Helmut estava aberto à ideia e pediu as condições da minha liberação da McLaren”, afirmou.
Mas a situação mudou depois que o próprio Brown entrou em contato com Marko.
“Zak ligou diretamente para Helmut, e depois disso ele não estava mais interessado. Não sei o que aconteceu naquela conversa, mas com certeza não ajudou”, declarou Palou.
“Deixou a equipe em modo de crise”
Na mesma audiência, Zak Brown afirmou que o rompimento de Palou deixou a McLaren “em modo de crise”, forçando o time a buscar pilotos de última hora e renegociar contratos de patrocínio com valores menores.
O executivo também negou ter prometido uma vaga na Fórmula 1.
“Disse a ele quais eram as oportunidades, mas nunca prometi que seria considerado”, afirmou Brown.
O caso continua
O julgamento, que vem se estendendo por mais de uma semana, já contou com dois dias de depoimentos de Brown, nos quais o dirigente também foi acusado de apagar mensagens de WhatsApp relacionadas ao caso — algo que ele nega.
Nesta quinta-feira, será a vez de Alex Palou ser interrogado pela defesa da McLaren. O resultado do processo pode ter impactos significativos na forma como as equipes da Fórmula Indy e da Fórmula 1 lidam com acordos de exclusividade e transição de pilotos entre categorias.
O caso segue em andamento.