PALOU DIZ QUE CONTRATO COM MCLAREN FOI “BASEADO EM MENTIRAS” E QUE PAGARÁ O PREÇO POR ANOS.

  • Léo "Rock" Alves
  • 10 de outubro de 2025

Alex Palou, um dos maiores nomes da Fórmula Indy na atualidade, afirmou em tribunal que o contrato que assinou com a McLaren foi “baseado em mentiras e falsas impressões”, e que o processo judicial movido pela equipe — avaliado em US$ 20,7 milhões (cerca de £15,4 milhões) — o afetará financeiramente por muitos anos.

O espanhol, tetracampeão da Indy e vencedor das 500 Milhas de Indianápolis de 2025, foi descrito no tribunal como o “Messi da IndyCar”, mas alegou que, apesar disso, não está entre os pilotos mais bem pagos da categoria por causa do litígio com a equipe de Zak Brown.

Embora o tribunal tenha ouvido que a Chip Ganassi Racing (CGR) concordou em cobrir os custos do processo e possíveis indenizações, Palou declarou que, na prática, está “reembolsando” o time ao aceitar um salário reduzido, e que isso se estenderá por vários anos.

“Embora exista essa indenização, sei que não recebo o mesmo que outros pilotos”, afirmou. “Não estou entre os três mais bem pagos e não estarei por muito tempo… estou pagando por isso com meu salário-base, e já comecei a fazê-lo.”

Acordo com McLaren e promessas não cumpridas

Palou assinou originalmente com a McLaren para disputar a temporada 2023 da Indy, mas o acordo acabou adiado para 2024. Ele, no entanto, optou por permanecer na Chip Ganassi Racing, admitindo que rompeu o contrato com o time britânico.

O piloto afirmou que tomou a decisão porque Zak Brown, CEO da McLaren Racing, não cumpriu promessas feitas durante as negociações — entre elas, oportunidades de correr pela Fórmula 1, incluindo várias sessões de treinos livres e testes adicionais com carros da categoria.

“Achei que tinha o direito de rescindir um acordo baseado em mentiras e falsas impressões”, declarou Palou.

Brown, que deu seu depoimento no tribunal dias antes, negou ter “enganado” o espanhol ou “alimentado falsas esperanças” de um assento na Fórmula 1.

O sonho da Fórmula 1 e a influência de Zak Brown

Palou contou que estaria disposto a abrir mão de uma vaga de titular na Fórmula Indy para se tornar piloto reserva da McLaren na F1 — uma chance que via como seu maior sonho.

“Zak queria levar um piloto da Indy para a Fórmula 1 e ser bem-sucedido. Ele me dizia que esse era o objetivo. Era algo que só a McLaren poderia fazer”, explicou o piloto. “Isso me foi dito claramente: que a ideia era me dar essa oportunidade e que esse seria o caminho.”

Segundo Palou, todo o plano estava descrito em contrato. Ele disse que o salário previsto para a primeira temporada estava relacionado ao programa de testes e ao papel de reserva na Fórmula 1, e que as cláusulas seguintes previam uma transição para a equipe principal.

“O texto deixava claro que o objetivo principal era chegar à Fórmula 1. Era o que eu entendi. Esse seria o destino final.”

O impacto da chegada de Piastri e o rompimento de confiança

Pouco depois da assinatura do contrato, Oscar Piastri foi anunciado como piloto titular da McLaren na Fórmula 1. Palou afirmou que, naquele momento, começou a desconfiar das intenções reais do time e que se sentiu enganado.

“Fiquei muito chateado, preocupado e irritado ao saber que a McLaren havia contratado outro piloto novato, em vez de mim”, relatou Palou.

Segundo o espanhol, sua equipe de gestão chegou a conversar com Brown, que teria dito que a chegada de Piastri “não interferiria” em seus planos para a F1.

“Eles me disseram que precisavam de alguém rápido em 2023, mas que isso não mudaria minhas chances. Acreditei nisso”, disse o piloto. “Mas, pelo que ouvi nos últimos dias, parece que o Sr. Brown toma todas as decisões. Isso não foi o que ele me contou.”

Durante o depoimento, Palou afirmou que, ao saber que Brown atribuía a decisão da contratação de Piastri a Andreas Seidl, então chefe da McLaren F1, ele acreditou estar sendo sincero. Mas, com o tempo, percebeu que as decisões partiam do próprio Brown.

Enquanto Palou falava, Zak Brown observava atentamente do banco da audiência e balançava a cabeça em sinal de discordância.

“Achei que estava sendo enganado”

Apesar de ter permanecido com a Ganassi em 2023, Palou firmou novo contrato com a McLaren para o período de 2024 a 2026, ainda acreditando que poderia alcançar a Fórmula 1.

“Esse é o meu sonho. Se me dizem que vou chegar lá, eu acredito e assino. Foi o que fiz”, contou.

Entretanto, o piloto declarou que, ao longo de 2023, percebeu que as oportunidades prometidas não se concretizariam. Ele esperava realizar múltiplas participações em treinos livres e mais sessões de testes, mas afirmou que a McLaren não cumpriu essas promessas.

“Achei que tinha o direito de encerrar um contrato que foi baseado em mentiras e falsas impressões”, reforçou.

O envolvimento dos advogados e a cláusula de prioridade da Ganassi

A corte britânica também ouviu que Zak Brown chegou a pagar os advogados de Palou durante um período de mediação entre McLaren, CGR e o piloto. Palou afirmou que, posteriormente, descobriu que seus próprios representantes sabiam de uma cláusula contratual que dava prioridade à Ganassi até meados de julho de 2022 — o que impedia legalmente a assinatura com a McLaren naquele momento.

“Descobri que meus advogados sabiam dessa cláusula, mas o Sr. Brown estava pagando por eles. Ele sabia que eu não podia assinar aquele contrato”, disse Palou.

O espanhol explicou que, naquele momento, teve de escolher entre dois caminhos: enfrentar a Ganassi, equipe que o havia tornado campeão, ou romper com a McLaren, que segundo ele o havia enganado.

“Eu tinha duas opções: brigar com a equipe que me deu tudo e me fez campeão, ou romper com alguém que me enganou e não me deu as oportunidades prometidas. Escolhi a segunda opção”, afirmou.

Um processo que abala os bastidores da Fórmula Indy

O caso McLaren x Palou — que envolve acusações de quebra de contrato, falsas promessas e até suposta destruição de mensagens por parte de Zak Brown — segue em andamento na Alta Corte de Londres.

Brown nega ter “enganado” ou “prejudicado” Palou, enquanto o espanhol mantém sua posição de que foi iludido com a promessa de uma vaga na Fórmula 1.

O desfecho do julgamento poderá ter impacto profundo não apenas na carreira de Alex Palou, mas também nas relações entre equipes da Indy e da Fórmula 1 — especialmente em futuras negociações de pilotos que sonham cruzar o Atlântico em busca da principal categoria do automobilismo mundial.

O tribunal retomará as audiências nos próximos dias.

Fonte: James Elson – Motor Sport Magazine

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