DE UM FIM AMARGO PARA A ESPERANÇA RENOVADA

Foto: Penske Enterteinament: James Black

  • Léo "Rock" Alves
  • 3 de setembro de 2025

Will Power e Team Penske formaram uma das parcerias mais vitoriosas da história da Fórmula Indy. Mas, após 17 anos, o ciclo se encerra: o australiano de 44 anos deixa a equipe de Roger Penske e em 2026 correrá pela Andretti Global-Honda.

O adeus inesperado

Desde 2009, Power vestia as cores da Penske e fez do carro nº 12 um ícone da categoria. Foram 42 vitórias, 65 poles, dois títulos (2014 e 2022) e uma conquista inesquecível: as 500 Milhas de Indianápolis de 2018.

Apesar da história, a separação não ocorreu em clima de celebração. “Depois de tudo que conquistamos juntos, parecia lógico que meu futuro estivesse na equipe”, comentou Power. “Mas senti que era hora de mudar. Quero continuar correndo em alto nível, e a Andretti me deu essa oportunidade.”

A decepção com a renovação

A primeira ruptura começou ainda em 2024. Ao renovar o contrato, Power pediu três anos. Recebeu como resposta que a situação seria revista no fim da temporada seguinte. Mesmo vencendo três corridas, sendo o principal rival de Alex Palou e chegando à final brigando pelo título, não recebeu proposta concreta.

“Qual piloto vence três corridas e não tem contrato renovado? O campeão venceu duas”, questionou Power. A oferta só apareceu após sua vitória em Portland, em 2025 — um contrato de apenas um ano. Para ele, era como se a equipe tivesse imposto um prazo de validade. Foi o estopim para decidir sair.

A sombra de Malukas

Enquanto Power seguia competitivo, a Penske já havia se movimentado. O time assinou com David Malukas em 2024 e o colocou na AJ Foyt Racing, como preparação para assumir um carro oficial em 2026. A movimentação mostrou que, mesmo com o bicampeão ainda entregando resultados, o futuro da equipe já estava desenhado.

“Eles vão trazer alguém bom para o lugar, talvez o Malukas”, disse Power. “A Penske é uma equipe incrível, mas sinto que a Andretti tem um potencial enorme de crescimento.”

Lealdade e sacrifício

Durante a passagem pela Penske, Power foi símbolo de lealdade. Em diversas ocasiões, abriu mão de chances pessoais para ajudar companheiros. Em 2009, substituiu Hélio Castroneves nas corridas em que o brasileiro estava afastado e entregou resultados imediatos. Em 2015 e 2017, cumpriu ordens de equipe que comprometeram suas chances no campeonato.

Diferente de outros pilotos, nunca negociou com equipes rivais enquanto estava sob contrato. Essa fidelidade torna sua saída ainda mais emblemática.

Um técnico dentro do carro

Parte fundamental da longevidade de Power foi sua inteligência técnica. Obsessivo por dados, adaptou-se a todas as mudanças de regulamento e desenvolveu uma das parcerias mais duradouras da Indy com o engenheiro Dave Faustino. Juntos, mantiveram a Penske entre as forças dominantes mesmo em anos difíceis.

“Eu nunca parei de aprender. Amo pilotar, sou um estudante do esporte”, declarou Power. “Ainda me sinto como se tivesse 20 e poucos anos.”

Nova fase com a Andretti

A Andretti Global, por sua vez, vive um processo de reestruturação liderado por Dan Towriss. A chegada de Power é vista como um reforço de peso para o time, que terá também Kyle Kirkwood e Marcus Ericsson em 2026. Além da experiência, o australiano levará conhecimento acumulado de anos com a Chevrolet, o que pode beneficiar a Honda no desenvolvimento de seus motores.

“Assinei com a Andretti porque eles não só já estão vencendo corridas, como também têm um grande potencial”, afirmou Power. “Estou animado para trabalhar com Kyle e Marcus, caras com quem já tive grandes batalhas.”

O impacto na Penske

Para a Penske, a saída representa mais que a perda de vitórias: significa perder seu piloto mais constante dos últimos anos, peça fundamental no desenvolvimento técnico e referência dentro da garagem. Em um período marcado pelo escândalo do “Boostgate” em St. Pete, pela saída de Tim Cindric e mudanças no comando com Jonathan Diuguid, a equipe sofre mais um abalo.

Power deixa também uma marca: 13 temporadas terminando entre os cinco primeiros do campeonato, feito que só Hélio Castroneves havia igualado na história da Penske.

O que vem a seguir

Agora, Power começa uma nova jornada. Curioso para sentir o comportamento do motor Honda e empolgado com o ambiente da Andretti, o bicampeão vê na mudança a chance de mostrar que ainda tem fôlego para lutar por títulos.

“Se mantiver a motivação e a preparação física, posso ser competitivo por mais cinco anos”, disse. “Talvez tenha perdido um pouco de velocidade pura, mas ganhei em consistência e experiência. Ainda tenho muito para dar.”

A temporada de 2026 será o teste definitivo: provar que, mesmo após quase duas décadas em uma mesma equipe, é possível renascer e brilhar em um novo lar.

Fonte: David Malsher Lopez/Racer.com

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