Foto: Penske Entertaiment: Joe Skibinski
Piloto americano pode seguir caminho inédito em 2026 para garantir vaga na Fórmula 1, buscando repetir — e ao mesmo tempo divergindo — da trajetória de Villeneuve, Montoya e outros campeões.
A temporada 2025 da Fórmula Indy chegou ao fim, mas o nome de Colton Herta segue em destaque. Não por uma vitória ou título, mas pela possibilidade concreta de que o piloto de 25 anos da Andretti Global abandone temporariamente a categoria para competir na Fórmula 2 em 2026, numa tentativa de alcançar os pontos que faltam para a superlicença da FIA — requisito indispensável para realizar o sonho de correr na Fórmula 1.
Um sistema arcaico que trava talentos
O problema de Herta não é o talento, mas sim o sistema de pontos da FIA, considerado arcaico e injusto com a Indy. Apesar de suas nove vitórias na categoria americana, ele soma apenas 32 pontos desde 2022, quando encerrou o campeonato em 10º lugar. Para obter a licença, são necessários 40.
O contraste é cruel: enquanto campeonatos como a Fórmula 2 distribuem a pontuação máxima ao campeão, a Indy é posicionada entre F2 e F3 em valor, mesmo sendo, na prática, uma categoria de nível superior. Isso já impediu, em 2022, que Herta fosse liberado para ocupar uma vaga na AlphaTauri. Agora, mais uma vez, a regra ameaça colocar em risco sua carreira.
A chance perdida com a Cadillac F1
Quando a Cadillac F1 foi anunciada, Herta parecia peça central do projeto. Sua imagem estava diretamente ligada ao sonho americano da Andretti em alcançar a F1. Mas para a temporada 2026, a equipe optou pela dupla experiente formada por Valtteri Bottas e Sergio Pérez, deixando Herta sem espaço imediato.
Segundo rumores não desmentidos nem pelo piloto nem pelo chefe Dan Towriss, a saída encontrada seria encarar a F2 — uma categoria vista como “inferior”, mas que pode lhe render os pontos que faltam para a licença e preparar o terreno para uma possível estreia em 2027.
Histórico de americanos e campeões que tentaram a transição
O movimento não seria inédito na história do automobilismo. Ao longo dos anos 1990 e 2000, pelo menos cinco campeões da Indy ou da CART migraram para a Fórmula 1:
- Jacques Villeneuve – Campeão da Indy em 1995 e vencedor das 500 Milhas de Indianápolis, foi vice em seu primeiro ano na F1 e campeão em 1997. É o maior exemplo de sucesso da transição.
- Juan Pablo Montoya – Campeão da CART em 1999 e vencedor da Indy 500 em 2000, brilhou na F1 com sete vitórias e dois terceiros lugares no Mundial.
- Cristiano da Matta – Campeão da CART em 2002, chegou à Toyota na F1 em 2003, mas foi dispensado antes do fim da segunda temporada.
- Sébastien Bourdais – Dono de quatro títulos consecutivos da Champ Car (2004-2007), teve passagem discreta pela Toro Rosso antes de retornar aos EUA.
- Michael Andretti – Ícone da Indy e campeão da CART em 1991, durou apenas 13 corridas na McLaren em 1993 antes de ser substituído por Mika Häkkinen.
A diferença é que todos esses nomes chegaram à F1 como campeões ou vencedores da Indy 500. Herta, por sua vez, não tem esses títulos em sua bagagem — o que torna seu caso ainda mais complexo.
O risco da F2
Competir na F2 aos 26 anos seria uma situação peculiar. A categoria, cujo grid atual tem média de 21 anos, é tradicionalmente um trampolim para jovens em início de carreira. Para muitos analistas, um veterano da Indy enfrentando adolescentes e jovens de 20 anos pode ser visto como “fora de lugar”.
Além disso, há fatores técnicos: a adaptação aos pneus Pirelli, diferentes dos Firestone usados na Indy, e as particularidades da categoria, onde o desempenho do carro nem sempre é igual para todos os pilotos. “É um estilo de pilotagem completamente distinto”, alertou Alexander Rossi, que disputou cinco GPs de F1 antes de migrar para a Indy.
O risco maior, segundo especialistas europeus, é de dano reputacional. Caso não conquiste resultados consistentes, Herta poderia voltar à Indy com a imagem arranhada.
Mas e se der certo?
O outro lado da moeda é igualmente tentador. Uma temporada competitiva na F2 poderia render os pontos que faltam para a superlicença e abrir caminho para a tão esperada estreia na Fórmula 1 em 2027. Além disso, Herta teria a chance de ganhar experiência em 14 pistas do calendário da F2, todas presentes também na F1.
Como disse Mario Andretti, um dos maiores defensores do projeto:
“Os Estados Unidos produzem campeões em todos os níveis do automobilismo, e precisamos estar representados na Fórmula 1. Colton é um talento especial que quer estar lá — e isso já é metade do caminho.”
O dilema de Colton Herta
Ao fim de 2025, Herta soma um currículo respeitável na Indy: nove vitórias, poles e presença frequente no pelotão da frente. Mas também carrega a frustração de nunca ter sido campeão. Diferente de Alex Palou ou Scott Dixon, que constroem legados históricos na categoria, Herta pode se sentir livre para arriscar e não se perguntar no futuro: “E se eu tivesse tentado?”.
Se dará certo ou não, só o tempo dirá. Mas uma coisa é clara: Herta não aceita ser lembrado como um piloto “com asterisco”. E, se o preço a pagar pela chance de alcançar a Fórmula 1 for encarar a F2 como um “veterano entre novatos”, ele parece disposto a correr o risco.