
Foto: FOX
Promoção massiva, crescimento internacional e uma nova identidade para a categoria estão entre os planos da Fox após adquirir um terço da IndyCar. Mas o que atraiu o gigante da mídia para esse acordo — e como essa participação deve transformar a categoria?
Poucos anúncios conseguem ser discretos e, ao mesmo tempo, sísmicos. O investimento da Fox Corporation na IndyCar é exatamente isso: uma mudança silenciosa que pode provocar terremotos nos bastidores da principal categoria de monopostos dos EUA.
Foi apenas um comunicado de imprensa que revelou a maior alteração na estrutura acionária da IndyCar desde que a Penske Corporation comprou a série em 2019. Nenhum executivo foi disponibilizado para entrevistas, os números oficiais do acordo não foram divulgados, e até alguns funcionários de alto escalão só souberam da notícia horas antes da publicação.
Ainda assim, o Wall Street Journal revelou que o valor pago gira entre US$ 125 milhões e US$ 135 milhões por um terço das ações da Penske Entertainment, empresa que controla a IndyCar e o Indianapolis Motor Speedway.
Em tempos em que a Fórmula 1 fatura mais de US$ 400 milhões por trimestre e uma única franquia da NASCAR pode valer até US$ 40 milhões, manter discrição pode ter sido uma escolha estratégica. O foco agora não é o preço da transação, mas sim o que ela representa: uma nova fase — e talvez a última grande chance — de crescimento sustentável para a IndyCar.
Como chegamos até aqui?
Para entender o que levou a Fox a apostar na IndyCar, é preciso olhar o passado da categoria — um passado repleto de rupturas e desafios. Dois momentos definiram sua trajetória moderna:
- A divisão em 1994, quando a criação da IRL separou o grid, destruiu a audiência e mergulhou a IndyCar em um período de irrelevância. Mesmo reunificada desde 2008, as cicatrizes daquele racha ainda são sentidas.
 - A pandemia de Covid-19, que ameaçou a sobrevivência de muitas ligas esportivas. Se Roger Penske não tivesse comprado a série em 2019, a IndyCar provavelmente não teria resistido. Além disso, Penske investiu cerca de US$ 50 milhões em reformas no Indianapolis Motor Speedway, garantindo a continuidade dos eventos.
 
Esses dois episódios quase sepultaram a categoria. Mas foi também a postura conservadora da gestão Penske — especialmente na área de marketing — que levou muitos executivos e donos de equipe a pedirem mudanças. E é nesse cenário que a Fox surge como parceira e agora co-proprietária da série.
Por que a Fox comprou uma fatia da IndyCar?
O acordo inclui não apenas a compra de 33% da Penske Entertainment, mas também uma renovação do contrato de direitos de transmissão até 2030. Agora, a Fox tem incentivo financeiro direto para fazer a IndyCar crescer. E esse tipo de parceria não é novo para a emissora.
Entre 2011 e 2018, a Fox deteve os direitos de transmissão do UFC e ajudou a transformá-lo em um gigante comercial — mesmo que a ESPN tenha assumido os direitos na fase de consolidação. A Fox não quer repetir esse erro com a IndyCar. Agora sócia, ela garante que qualquer crescimento beneficie também seus próprios negócios.
Além disso, a Fox já detém participação na United Football League (UFL), o que mostra seu interesse em ligas com potencial de crescimento e narrativas esportivas fortes.
Como está indo a transmissão na Fox?
Apesar de altos e baixos, o primeiro ano da IndyCar na Fox trouxe números promissores:
- A abertura em St. Petersburg teve 1,42 milhão de espectadores — o maior número fora da Indy 500 desde 2011.
 - As corridas de Detroit e Gateway também ultrapassaram 1 milhão de espectadores.
 
E o que essas três corridas têm em comum? Todas foram promovidas com campanhas de TV massivas durante o Super Bowl, com foco em pilotos como Josef Newgarden, Pato O’Ward e Álex Palou. Cada comercial exibido durante o intervalo custou cerca de US$ 8 milhões, superando o orçamento total de marketing da IndyCar em 2023 (US$ 17 milhões).
O recado é claro: quando a Fox investe em divulgação, o público responde.
O que muda daqui pra frente?
Com a Fox agora como sócia, a IndyCar se prepara para mudanças em várias frentes:
🟢 Mais marketing, o ano inteiro
Chega de campanhas que se concentram apenas na Indy 500. A estratégia será ativa e constante, com:
- Mais comerciais em eventos esportivos de grande audiência;
 - Promoções locais e eventos com pilotos;
 - Presença nas redes sociais e plataformas digitais da Fox.
 
🌎 Internacionalização
A Fox, antes focada apenas no mercado americano, agora tem interesse direto na expansão global da IndyCar.
- A corrida no México (CDMX) está próxima de ser confirmada, apesar de atrasos contratuais;
 - A presença de pilotos europeus (como Palou, Lundgaard, Ilott) e latinos (O’Ward, Canapino) pode acelerar novas parcerias internacionais;
 - A IndyCar já é exibida por grandes redes na Europa, o que facilita novos negócios.
 
📺 Experiência de TV aprimorada
A tendência é vermos:
- Corridas com maior duração na TV;
 - Pré e pós-corrida mais completos;
 - Séries documentais e bastidores, como uma versão da F1: Drive to Survive;
 - Novas câmeras e gráficos dinâmicos durante a transmissão.
 
O que diz o paddock?
A reação entre os principais nomes da categoria foi amplamente positiva. Zak Brown, CEO da McLaren Racing e um dos maiores críticos da gestão Penske, celebrou o acordo:
“Eles acreditam no potencial da série. Já mostraram a força de marketing que têm e estou mais confiante do que nunca no futuro da IndyCar.”
Michael Andretti, outro nome influente, foi ainda mais direto no passado ao sugerir que Penske deveria “vender a série” se não estivesse disposto a investir. Parece que ele foi ouvido.
Uma nova era — ou a última chance?
O investimento da Fox representa muito mais do que dinheiro: ele é uma aposta em tornar a IndyCar relevante de novo. Um passo que une estabilidade financeira, capacidade de promoção e visão estratégica.
Mas o sucesso depende de execução. De alinhar interesses. E, principalmente, de evitar os erros do passado: disputas internas, falta de comunicação e decisões conservadoras.
A Fox está pronta para colocar a IndyCar sob os holofotes. Cabe agora à categoria corresponder dentro e fora das pistas.