CALENDÁRIO PÕE F1 EM ROTA DE COLISÃO COM A INDY 500

Foto: Penske Entertainment: Chris Owens

  • Léo "Rock" Alves
  • 10 de junho de 2025

Ao tentar resolver um problema, a Fórmula 1 criou outro. E dessa vez, o impacto pode ser direto em sua crescente base de fãs na América do Norte.

A decisão de antecipar o GP do Canadá para o último fim de semana de maio, ocupando o tradicional espaço das 500 Milhas de Indianápolis, criou um conflito inédito direto entre O maior espetáculo do automobilismos e a etapa do mundial de Fórmula 1. Pela primeira vez em décadas, o GP canadense será realizado no mesmo domingo da Indy 500 e pior: com sobreposição direta de horários.

Uma decisão que pode custar caro

A justificativa oficial da F1 é logística: ao mover Mônaco para início de Junho, o Canadá pôde ser encaixado como a segunda etapa norte-americana, evitando o deslocamento solitário após o início da temporada europeia. A teoria parece funcional — até colidirem com a realidade de que a Indy 500 não é só “mais uma corrida”.

Com audiência média de 7 milhões de pessoas em 2025, e pico de 8,4 milhões, a Indy 500 ofuscou qualquer outra transmissão de automobilismo no continente, enquanto a F1, mesmo em crescimento, gira em torno de 2,1 milhões por etapa. Ignorar esse cenário e assumir que o público é completamente distinto é arriscado.

A força dos fusos horários

Quando o GP de Mônaco ocupava esse fim de semana, a F1 acontecia na parte da manhã para o público americano, servindo como “esquenta” para o dia mais aguardado do automobilismo mundial, que inclui a Indy 500 e a Coca-Cola 600 da NASCAR. Agora, com o GP do Canadá às 15h (horário de Brasília), a corrida entra em conflito direto com a Indy 500, que larga por volta das 13h45. Ou seja: o auge das duas provas ocorrerá simultaneamente.

Atrasar a largada em Montreal? Pouco viável, pois comprometeria o público europeu e invadiria o território da NASCAR. Manter como está? Significa dividir o interesse e possivelmente perder o público casual aquele que decide assistir o que estiver mais chamativo.

F1 e Indy: Público mais próximo do que se imagina

Apesar das declarações da F1 de que os públicos são diferentes, a verdade é que há uma interseção considerável entre fãs das duas categorias. A presença de nomes como Kyle Larson (estreante em 2024 nas 500 Milhas) e o interesse crescente da F1 nos EUA são provas disso. São audiências complementares não concorrentes por essência e que, se bem tratadas, podem beneficiar ambas.

Mas esse espírito de “maré alta levanta todos os barcos”, defendido por ex-dirigentes como Sean Bratches, parece ter sido abandonado por Stefano Domenicali ao priorizar o encaixe do GP canadense nesse fim de semana.

E quem perde com isso?

As arquibancadas estarão cheias em Montreal e Indianápolis, sem dúvida. Mas não é sobre quem vai aos autódromos — é sobre quem assiste de casa, zapeando entre canais ou tendo que optar por uma ou outra transmissão. E nesse duelo, a Indy 500 tende a vencer nos lares norte-americanos mas não globalmente.

É um movimento de curto prazo que coloca em cheque o avanço de longo prazo que a F1 vem construindo nos EUA. Justamente num momento em que o esporte parecia ter achado sua voz no mercado americano, essa colisão desnecessária soa como um passo para trás.

A previsão é de que esse choque aconteça apenas uma vez a cada cinco anos. Esperemos. Mas para 2026, o cenário está desenhado: a F1 pode ter acertado a logística — e errado o público.

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